Por que a produtividade não decola?

Da Redação ·
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fonte: Pixabay
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A análise da produtividade do trabalho é um espelho revelador da capacidade de uma economia em gerar riqueza a partir da força de trabalho disponível. Em estudo recente, conduzido com base nos dados do PIB e do emprego formal entre os anos de 2011 e 2021, é possível observar com precisão desconfortável o que os números ajustados insistem em dizer: estamos presos em um ciclo de estagnação estrutural em produtividade.

Tomando como referência a produtividade do trabalho, dividindo-se o PIB dos municípios pela força de trabalho formal, nota-se que, apesar do crescimento absoluto em diversos municípios da região, a evolução relativa é decepcionante, com metade dos municípios da região do Vale do Ivaí ficando abaixo da mediana do estado, que ficou em 0,7% ao ano. Apucarana, por exemplo, apresentou uma taxa geométrica anual de crescimento da produtividade de apenas 0,6% ao ano, empatada com Jandaia do Sul. Ivaiporã apresentou uma taxa anual de 0,5%.

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Os melhores resultados da região ficaram com São Pedro do Ivaí (1,3%), Rio Branco do Ivaí (1,2%) e Lunardelli (1,0%). Porém, esses resultados devem ser analisados com ressalvas pelo fato de que ocorreu uma forte redução dos empregos formais. Em São Pedro do Ivaí, por exemplo, o emprego formal no ano de 2021 estava inferior à metade do total do ano de 2011. Esses dados precisam ser estudados sobre outras perspectivas, pois há possibilidade de redução de acesso aos direitos sociais com a redução do emprego formal.

Dos municípios paranaenses que apresentaram evolução da produtividade acima da mediana estadual e que tiveram aumento dos empregos formais podemos destacar Jussara, Ribeirão do Pinhal, Iracema do Oeste e Florestópolis, entre outros. No Vale do Ivaí somente Ariranha do Ivaí e Kaloré apresentaram esse desempenho, revelando trajetórias mais dinâmicas. O que explica essa disparidade?

A resposta, ao menos em parte, está no acúmulo de omissões estratégicas. As políticas públicas têm ignorado as mudanças demográficas, tecnológicas e organizacionais que reconfiguram a produtividade nas economias mais dinâmicas. A região do Vale do Ivaí, com sua histórica vocação agroindustrial, poderia estar liderando um novo ciclo de inovação, aproveitando as oportunidades da digitalização do campo e da agregação de valor industrial. Mas não: temos planos de desenvolvimento genéricos, focados em eventos pontuais e programas de incentivo fiscal que pouco estimulam o ganho de produtividade.

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Em outro estudo em que participei no ano de 2024 é destacada a importância do perfil etário da força de trabalho, reforçando que o envelhecimento sem renovação qualificada tende a reduzir o dinamismo produtivo. Estudos internacionais mostram como o envelhecimento da força laboral pode impactar negativamente o crescimento da produtividade total dos fatores. No caso do Vale do Ivaí, a ausência de políticas voltadas à qualificação contínua da mão de obra, ao fomento à inovação e à modernização dos processos produtivos apenas aprofunda esse quadro de baixa eficiência.

É legítimo, portanto, perguntar: o que, de fato, estamos fazendo para mudar esse cenário? Onde estão as estratégias integradas entre governos locais, universidades e instituições de ciência e tecnologia que possam impulsionar a produtividade nos setores com maior vocação econômica? O Vale do Ivaí precisa deixar de ser um coadjuvante nas estatísticas do atraso para protagonizar sua própria história de transformação ou continuará sendo apenas mais um número no retrato da estagnação.

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