A verdade que ensina

Da Redação ·
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fonte: Ilustrativa/Pixabay
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Em tempos de discursos fáceis e narrativas inflamadas, é preciso reafirmar uma obviedade que parece sempre precisar ser redita: não há política pública séria sem dados confiáveis. Estatísticas, censos e levantamentos são a espinha dorsal da gestão pública moderna. Não são apenas instrumentos técnicos, mas bússolas éticas e estratégicas que orientam decisões e revelam o retrato real das nossas estruturas sociais.

O Censo Escolar, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) sob demanda do Ministério da Educação, é um exemplo emblemático desse papel. Ele não é uma mera formalidade burocrática, tampouco um capricho tecnocrático. Trata-se do principal levantamento sobre a educação básica brasileira, capaz de mostrar, com precisão e transparência, as condições em que estudam milhões de crianças e adolescentes. É a partir dele que os policy makers podem formular políticas educacionais eficientes e justas para corrigir distorções estruturais.

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Não é a primeira vez que abordo esse tema. Já o fiz em 2018, neste mesmo espaço e insisto: o Censo Escolar e os demais levantamentos estatísticos precisam ser encarados com seriedade e compromisso. É fundamental sensibilizar os profissionais responsáveis pelo preenchimento e pela validação desses dados de que o momento do censo não é uma oportunidade de “se vingar” do sistema, tampouco de expressar seus descontentamentos. Falsear informações é um desvio ético grave e uma falta administrativa que fere o princípio da moralidade pública. Servidores e servidoras estão a serviço da sociedade, e não de suas insatisfações pessoais.

As informações censitárias e avaliativas cumprem um papel nobre: identificar falhas e carências, para que o gestor possa agir de maneira técnica e estruturante. É a partir delas que se detectam as desigualdades regionais, a precariedade das condições escolares e as urgências pedagógicas. Valorizar a educação não é apenas elevar salários, mas também investir em infraestrutura, acessibilidade, formação continuada e bem-estar da comunidade escolar.

O Censo Escolar de 2025 trará novos elementos para reflexão e ação. Mas basta olharmos para o de 2023 para percebermos o quanto ainda precisamos avançar. No Paraná 84,4% das escolas municipais do ensino fundamental separavam o lixo para tratamento adequado. É um dado positivo, mas ainda havia 23 municípios sem qualquer política de separação. Em 67 municípios, nenhuma escola municipal possuía biblioteca, um número alarmante para um Estado que se orgulha de seus índices educacionais. Apenas 50,3% das salas eram acessíveis, e pouco mais da metade (56,3%) contava com climatização.

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Mais grave ainda: havia, em média, um psicólogo para cada duas escolas da rede municipal, mas 148 municípios não contavam com nenhum profissional dessa área. Isso significa que milhares de alunos e professores enfrentavam os desafios da saúde mental sem o devido suporte técnico. De outro lado, 172 municípios possuíam um psicólogo para cada escola, o que, dependendo do tamanho das escolas, ainda pode ser insuficiente.

Esses números não são meras estatísticas. São o espelho de uma realidade que exige coragem, planejamento e, sobretudo, honestidade intelectual. Só um gestor público comprometido com o uso ético e inteligente das informações será capaz de transformar diagnósticos em políticas efetivas, garantindo às crianças uma educação digna e um futuro promissor. Quando as estatísticas são tratadas com seriedade, elas se tornam o instrumento mais poderoso da verdade e da transformação social.

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