Fale rápido o trajeto que você faz todos os dias. Agora pense quanto tempo da sua vida está parado em um ônibus lotado, em um carro preso no congestionamento ou andando por calçadas ruins. Mobilidade urbana parece assunto técnico, mas, no fundo, é sobre isso: quanto a cidade ajuda ou atrapalha a nossa própria vida andar para a frente. Quando a mobilidade funciona mal, a cidade encolhe. O emprego que está a poucos quilômetros vira “longe demais”. O curso noturno deixa de ser opção. A consulta médica é adiada. O custo da passagem pesa no bolso de quem menos tem. Ao mesmo tempo, o excesso de carros nas ruas aumenta o barulho, a poluição e a sensação de cansaço.
Uma cidade inteligente não é apenas aquela cheia de sensores e aplicativos. É, antes de tudo, uma cidade que organiza seus espaços e seus meios de transporte pensando nas pessoas, no meio ambiente e na economia real. Isso passa por algo simples de entender e difícil de praticar: priorizar o transporte coletivo e os modos ativos, como caminhar e pedalar, em vez de depender quase só do automóvel.
No Paraná, o Bonde Urbano Digital (BUD), entre Pinhais e Piraquara, mostra como essa mudança é possível. Trata-se de um veículo guiado digitalmente, com tecnologia embarcada, movido a eletricidade e capacidade para muitas pessoas, rodando em um corredor exclusivo. Em vez de ampliar faixas para carros, o Estado aposta em um sistema que ocupa menos espaço, emite menos poluentes e oferece um deslocamento mais previsível. É mobilidade sustentável aplicada na prática, conectando bairros, reduzindo tempo de viagem e aproximando oportunidades.
No Norte do Paraná, Londrina e Maringá dão sinais importantes de como cidades médias também podem avançar. Londrina vem ampliando sua rede cicloviária e integrando a bicicleta ao planejamento urbano, fazendo com que pedalar deixe de ser apenas lazer de fim de semana e passe a ser alternativa real de deslocamento diário. Maringá, com seu traçado planejado, avenidas largas e áreas verdes, tem condições de fortalecer corredores de ônibus, rotas de bicicleta e conexões entre bairros de forma estratégica, aproximando moradia, trabalho e serviços.
Esses exemplos mostram que mobilidade não é só obra viária. É decisão sobre qual modelo de cidade queremos incentivar. Quando governos, empresas, universidades e comunidade se organizam em torno de dados simples, tempo médio de deslocamento, custo por viagem, número de pessoas atendidas, fica mais fácil enxergar prioridades. Em vez de medir apenas quilômetros de asfalto, a pergunta passa a ser: quantas vidas estamos facilitando com cada intervenção?
Também há um lado ético nessa discussão. Se as políticas de mobilidade continuarem centradas no carro, reforçamos um privilégio de poucos e mantemos periferias afastadas das oportunidades. Quando a cidade escolhe investir em corredores de ônibus bem planejados, calçadas acessíveis, ciclovias seguras e soluções como o BUD, ela envia um recado claro: ninguém deve ficar para trás por não ter automóvel.
Mudar a forma de nos deslocar não é simples nem rápido, mas é inevitável se quisermos cidades mais justas, competitivas e sustentáveis. Cada decisão de planejamento, cada projeto de transporte coletivo e cada quilômetro de rota ciclável é, no fundo, uma escolha sobre que tipo de sociedade estamos construindo. Enquanto a mobilidade estiver travada, a cidade também estará. Quando a cidade anda, as pessoas avançam.