O pequeno príncipe caminhava sobre a areia clara.
As estrelas, que antes lhe riam, agora pareciam observá-lo em silêncio.
Foi então que encontrou um homem sentado numa pedra.
Ele sorria muito. Mas seu sorriso era pesado, como se escondesse uma dor.
— Bom dia — disse o pequeno príncipe.
— Bom dia — respondeu o homem. — Preciso que você fique comigo. Sem você, não consigo viver.
O pequeno príncipe abaixou a cabeça, triste.
Ele se lembrava da rosa, que também pedia cuidados. Mas a rosa pedia por amor, não por medo.
E se lembrava da raposa, que lhe ensinara a responsabilidade. Mas responsabilidade não era prisão.
— Se você me deixar — continuou o homem —, direi que é culpa sua. Minha tristeza será sua responsabilidade.
O pequeno príncipe pensou.
Ele conhecia planetas onde havia reis, vaidosos, beberrões. Mas nunca tinha encontrado alguém que usasse sua dor como corrente.
E o pequeno príncipe disse:
— Cada um deve cuidar do próprio coração. Só assim pode cuidar dos outros. Se eu não cuidar de mim, não poderei cuidar da rosa. Nem da raposa. Nem de você.
O homem chorou.
Mas o pequeno príncipe não se moveu.
Sabia que a lágrima sincera cura.
E que a lágrima disfarçada aprisiona.
Lembrou-se então da serpente, que um dia se apresentou como solução rápida, um atalho para a eternidade. Ele a aceitara porque estava inseguro, sozinho, frágil.
Agora percebia: todo veneno se disfarça de resposta. Todo atalho exige uma alma cansada.
Naquele instante, o pequeno príncipe entendeu algo novo:
há amores que se oferecem como água fresca, e há outros que se impõem como sede sem fim.
O primeiro nos fortalece.
O segundo nos enfraquece.
Ele olhou para o céu estrelado e sorriu:
— Não é amor o que nasce da chantagem. Não é amizade o que exige algemas. A verdadeira ligação é aquela em que cada um se responsabiliza pelo próprio mundo.
E continuou seu caminho.
Mais leve.
Mais inteiro.
Sabendo que cuidar de si é o único modo de não perder a rosa, a raposa e as estrelas.
E, se você me permite, leitor:
não é preciso ser puro e ingênuo como o pequeno príncipe.
Mas, por favor, também não tente ser tão astuto quanto Maquiavel.
A vida não pede santos nem príncipes — pede gente que saiba rir, chorar, e, sobretudo, não cair na tentação de manipular ou ser manipulado.