A honra e o privilégio Pedro Zumas

Como diz a frase repetida pelos alunos todos os dias: “É uma honra dividir o tempo e o espaço com o senhor”

Da Redação ·
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Professor Pedro Zumas em sala de aula
fonte: Reprodução/Apucarana 80 anos: histórias da gente
Professor Pedro Zumas em sala de aula
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A Lituânia é um pequeno país da Europa, fazendo divisa com Polônia, Letônia e Belarus. O primeiro registro de seu nome aparece em 09 de março de 1009 na história de São Bruno, ainda que haja controvérsias pelas traduções do período. Com forte crescimento na Idade Média, lutou contra invasões mongóis da Horda de Ouro no século XIII. Já nos séculos XIV e XV esteve ligada a Polônia após tratados e coroações. No século XVIII foi anexada pelo Império Russo, tornando-se independente apenas em 16 de fevereiro de 1918, já no fim da Primeira Guerra Mundial. Porém, sua liberdade durou pouco, sendo anexada a União Soviética em 1940, durante a Segunda Guerra. Enfim, restaurou sua independência em 11 de março de 1990, quando se aproximava o fim da Guerra Fria.

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A longínqua história da Lituânia mostra os valores de um povo guerreiro e resiliente que sobreviveu por mil anos em uma área de conflitos políticos. Apesar de pequeno, o país guarda suas tradições como joias preciosas, que são passadas de geração em geração. Fugindo desses conflitos, muitas famílias buscaram refúgio em diversos cantos do planeta, inclusive no Norte do Paraná. Mas mesmo longe de suas terras, ensinavam a seus filhos o valor da tradição, que somada ao espírito desbravador e trabalhador do brasileiro, forjou homens e mulheres valorosos. Foi assim que aconteceu com o querido Professor Pedro Zumas.

Ele, oriundo de uma família Lituânia, cujos primeiros anos foram vividos em um ambiente rural no município de Sabáudia/PR, imerso na língua lituana, aprendeu sobre o passado com o olhar voltado para o futuro. Inicialmente educado pela mãe, aprendeu a ler e escrever antes de frequentar o Grupo Escolar Hermínia Rolim Lupion. Dispensado do primeiro ano, ingressou diretamente no segundo, tendo como professores notáveis Lourdes da Silva e Francisco de Oliveira.

No Seminário São Pio X, ele se dedicou ao estudo do Latim e Religião. Após deixar o seminário, começou sua carreira como professor primário em Sabáudia e estudou à noite na Escola Normal Vicente Themudo Lessa, em Arapongas. Posteriormente, ingressou na Faculdade de Filosofia para Letras Franco-Portuguesas.

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Ele conheceu Apucarana quando ainda era seminarista diocesano em Londrina, em comitiva a convite de Dom Romeu Alberti, quando da criação da Diocese de Apucarana em 1965. Foi amor à primeira vista, mas o destino ainda reservava algumas surpresas antes que ele ficasse de vez na cidade.

Transitando para o ensino de Francês e Português em Pitangueiras, passou por diversas instituições educacionais, incluindo o Colégio São José e o Colégio Canadá de Apucarana, onde contribuiu para a autonomia desta instituição. Engajou-se também no ensino pré-vestibular e de cursos preparatórios em várias cidades. No São José, a convite do Padre Álvaro de Oliveira, iniciou seus trabalhos em 1977 como professor de Francês, assumindo o Português no ano seguinte. Em 1979, foi convidado para trabalhar no Colégio Canadá, de onde nunca mais saiu.

Casou-se com a também professora Doroti em 1975, mudando oficialmente para Apucarana no dia 06 de janeiro de 1982, mesmo já trabalhando e percorrendo diversos espaços há anos. Aqui nasceram seus dois filhos, Vytautas Fabiano e Tatiana. O nome Vytautas é, inclusive, uma homenagem a um monarca lituânio do século XV.

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Paralelamente, obteve formação em Psicanálise Clínica e ministrou aulas em diversas localidades. Com 58 anos de experiência no ensino, mesmo aposentado, continua ativo no Colégio Canadá de Apucarana, cidade à qual foi apresentado durante seu tempo como seminarista. Seu envolvimento com a educação não se limitou ao ensino regular, estendendo-se a cursos preparatórios para concursos e capacitação em empresas.

No Colégio Prof. Izidoro Luiz Cerávolo, introduziu métodos didáticos inovadores, como substituir livros didáticos por trabalhos com jornais e participação em concursos literários. Além disso, implantou simulados para preparar os alunos para vestibulares na área contábil e administrativa.

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Transitou entre escolas particulares e públicas, como o Colégio Canadá (posteriormente Colégio Platão), ampliando sua atuação para Maringá, onde lecionou no Curso Biotec e teve participações na TV. Sua atuação ocorreu junto à TV Tibagi, no programa Sertanejo Classe A, então comandado pelo ainda hoje locutor e animador Matãozinho que, em suas férias, era substituído pelo Prof. Zumas.

Como locutor, marcou presença em eventos e formaturas nas escolas onde atuou, mantendo uma contribuição ativa no âmbito educacional e cultural da região. Sua voz inigualável, além da habilidade de encantar a todos com seus gracejos, faz dele peça indispensável em eventos e cerimoniais. Ainda que ele diga, algumas vezes, que pretende parar por estar cansado, nenhuma formatura seria a mesma sem a sua condução.

Não caberiam nessas páginas tudo aquilo que ele fez e tem feito, não só no campo educacional, mas como um homem de mil facetas e habilidades, sendo reconhecido, inclusive, por sua paixão pela comunicação via rádio, mantendo amizades em todo o país, levando o nome de Apucarana para as páginas dos jornais.

Infelizmente uma grave doença o deixou viúvo em 2020, quando a pandemia estava em seu auge. Seu grande amor, Doroti, sofria com doenças respiratórias, mas faleceu sem qualquer relação direta com o Covid, contudo, isso não impediu que a cerimônia fúnebre fosse discreta e sem a presença dos amigos. Após 55 anos de casados, Prof. Zumas guarda em sua sala todos os relógios que sua esposa utilizou ao longo da vida, desde um pequeno e modesto utilizado em sua juventude, até os mais detalhados nos seus últimos anos. Todos estão colocados em uma caixa de vidro pregada a parede, cada um parado em uma hora diferente, mas todos extremamente preservados e bem cuidados.

O tesouro de Zumas, herdado de sua esposa, não se trata de nenhuma forma de seu valor monetário, mas da contagem do tempo que viveram juntos. Os relógios que antes estavam presos ao pulso de Doroti, hoje o relembram que cada minuto valeu a pena. Não se trata apenas do tempo de casado, mas de tudo que ele construiu em sua linda trajetória. Como diz a frase repetida pelos alunos todos os dias: “É uma honra dividir o tempo e o espaço com o senhor”, pois na imensidão do mundo e das épocas, foi aqui e agora que tivemos a oportunidade de aprender com ele.

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