Nos últimos anos, o ensino técnico profissionalizante passou a ocupar um espaço importante na agenda educacional e de desenvolvimento do país. No Paraná, o número de alunos matriculados nesses cursos cresceu 41,7% nos últimos dez anos. Em Apucarana, o avanço foi de 45,6% e em Arapongas ocorreu um expressivo aumento de 67,7%. Em contrapartida, Jandaia do Sul registrou uma redução de 15,1% no número de matrículas. Esses dados, por si só, já indicam um caminho que merece reflexão: não basta aumentar ou diminuir a oferta de vagas. É preciso qualificar esse crescimento com planejamento e coerência com a realidade econômica regional.
A ausência de um alinhamento entre os cursos técnicos ofertados e as reais demandas do mercado local tem um custo social, econômico e humano muito alto. Quando se formam dezenas ou centenas de jovens em áreas sem absorção regional, o resultado é a frustração de expectativas e a formação de um contingente de profissionais que, embora tecnicamente qualificados, acabam empurrados para funções que não exigem nenhuma qualificação. Esse descompasso perpetua o ciclo do subemprego, onde jovens com formação técnica passam a ocupar postos informais, com baixa remuneração, sem proteção social e longe de exercerem plenamente seu potencial produtivo.
O caso de municípios que ofertam cursos técnicos em áreas como turismo, informática ou eventos, sem qualquer estrutura local para absorver esses profissionais, é ilustrativo. Os egressos, sem oportunidades nas suas áreas, buscam vagas em centros urbanos maiores ou acabam aceitando empregos fora do perfil técnico adquirido. A cidade perde em produtividade, o jovem perde em motivação, e o Estado desperdiça recursos que poderiam ter sido direcionados com mais eficácia.
Mais grave ainda é o impacto disso no longo prazo. O jovem que se vê subempregado após anos de estudo técnico tende a desacreditar no valor da educação e a se distanciar de novos ciclos de qualificação. Esse afastamento provoca o enrijecimento da mobilidade social e reforça desigualdades históricas. O subemprego, quando reiterado, não é apenas um problema individual. É um sintoma de desfuncionalidade sistêmica que compromete a competitividade local.
E se há municípios, como Arapongas, que têm conseguido crescer alinhando formação técnica com vocações locais, como o setor moveleiro e de design industrial, há outros, como Jandaia do Sul, que, mesmo com potencial em áreas como agroindústria, biotecnologia e logística, não conseguem consolidar uma política consistente de formação de mão de obra. Isso mostra que o problema não está na ausência de demanda, mas na ausência de planejamento estratégico.
Em países desenvolvidos, o ensino técnico é instrumento de política industrial. A Alemanha adota o sistema dual, integrando escola e empresa. O Japão direciona sua formação técnica para setores prioritários de sua economia. A Finlândia vincula a educação profissional aos ecossistemas regionais de inovação. Em todos esses casos, a formação de mão de obra é vista como elemento prioritário.
No Brasil, ainda precisamos abandonar a lógica da improvisação. Não basta oferecer cursos para preencher estatísticas. É necessário um pacto federativo que envolva municípios, estados, setor produtivo e instituições de ensino, voltado a mapear demandas regionais e prever tendências de mercado para definir o que e onde formar. Só assim romperemos com o ciclo do subemprego e daremos à juventude o que ela realmente precisa: trabalho digno, oportunidade e pertencimento.