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Liderado por cabeleireiro, assalto a banco que parou o PR faz 30 anos

Então com 13 anos, ex-refém em Faxinal lembra momentos de angústia e conta que um dos sequestradores foi trabalhar depois com a família; vídeo

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 02.08.2023, 16:59:28 Editado em 02.08.2023, 17:43:08
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Um dos assaltos a banco de maior repercussão nacional, ocorrido em dezembro de 1993 em Faxinal, no Norte do Paraná, completa 30 anos em 2023. Quatro bandidos armados invadiram a agência do Banco do Brasil da cidade em 15 de dezembro daquele ano e fizeram 27 reféns. Um quinto criminoso estava no Rio Ivaí para providenciar a fuga dos ladrões em um barco. A tentativa de roubo seguida de sequestro durou 57 horas e os reféns foram libertados sem nenhum ferimento após um cerco policial, que incluiu integrantes do grupo de elite Tigre (Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial), de Curitiba, e apoio de um helicóptero. Veja a reportagem em vídeo, em duas partes, no final da matéria

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Além da tensão que tomou conta do pequeno município do interior do Paraná, a ação dos assaltantes chamou atenção para a falta de experiência da quadrilha, segundo a polícia. Os quatro envolvidos diretos no crime – que depois foram condenados – eram desempregados: um cabeleireiro de Apucarana (PR), um corretor de imóveis também de Apucarana (PR); um maquinista de Centenário do Sul (PR) e um metalúrgico de Ponta Grossa (PR).

Eles argumentaram, na época, que praticaram o crime em busca de dinheiro para pagar dívidas. Apenas um deles tinha passagem pela polícia, enquanto os outros quatro eram réus primários. Os participantes do assalto foram condenados a penas somadas de 76 anos de prisão pelos crimes de roubo, formação de quadrilha e sequestro. O cabeleireiro, apontado como líder do grupo, recebeu a maior sentença: 21 anos e quatro meses.

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 Policiais de elite de Curitiba foram chamados
Foto por Arquivo/Tribuna do Norte/Jair Ferreira
Policiais de elite de Curitiba foram chamados


O quinto integrante, irmão do cabeleireiro de Apucarana, acabou liberado por não participar do crime, mas também foi condenado posteriormente. Todos já estão em liberdade.

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Na época, a Polícia Civil apontou uma série de atitudes que considerou como “trapalhadas” da quadrilha. “Primeiro atiraram nos aparelhos telefônicos e no fogão da cozinha, o que lhes deixou sem comida, pois havia várias cestas básicas no interior da agência”, revela trecho da reportagem da Tribuna do Norte de 19 de dezembro de 1993.

 Tribuna noticia o fim do sequestro em 16 de dezembro de 1993
Foto por TN
Tribuna noticia o fim do sequestro em 16 de dezembro de 1993

A matéria acrescenta: “Além disso, o presumível líder do grupo {...} acertou um tiro no próprio pé ao disparar acidentalmente o próprio revólver. O ferimento não foi grave, a bala pegou de raspão”.

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Os ladrões também teriam distribuído dinheiro para alguns reféns, segundo reportagens da época. Os valores teriam sido devolvidos à polícia. Na época, o líder da quadrilha negou essa informação, argumentando que as cédulas estavam espalhadas pelo chão da agência e que algum refém pode ter pego o dinheiro por conta própria.

PASTOR TINHA 13 ANOS NA ÉPOCA

Um dos reféns que ficaram mais conhecidos durante o assalto em Faxinal (PR) foi Luís Cláudio Campos, então com apenas 13 anos. Ele foi até a agência para cobrar uma “notinha” dos funcionários, que pegavam comida na lanchonete da família, do outro lado da rua.

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Hoje pastor da Igreja Presbiteriana Renovada em Faxinal, Luís Cláudio, de 42 anos, ainda lembra de detalhes do assalto de 30 anos atrás. Na oportunidade, o pastor ficou ainda mais conhecido depois da divulgação de que ele não quis sair da agência antes dos demais reféns.

Agora, ele revela que acabou ficando por orientações dos funcionários e clientes que estavam na agência. Os outros reféns temiam que, com a saída dele - que tinha acabado de completar 13 anos e era praticamente ainda uma criança-, os policiais invadiriam e eles correriam mais riscos.

 Luís Cláudio na época do assalto e hoje
Foto por TN
Luís Cláudio na época do assalto e hoje
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Na época, o morador de Faxinal deu uma entrevista à Tribuna do Norte afirmando que os assaltantes não pareciam criminosos. “Eles poderiam ser muita coisa, menos assaltantes”, disse. Hoje, ele mantém a mesma sensação. “Os próprios assaltantes não eram pessoas brutas, que ficavam ameaçando o tempo todo. No início, é claro, foi chocante, mas depois organizou o lugar de cada um no banco. Além disso, eu tive o privilégio, por ser menino ainda, de sempre ter alguém me dando umas coordenadas e isso ajudou no meu psicológico”, conta.

No entanto, ele admite que foram momentos de medo, principalmente quando houve o barulho de tiros no início do assalto. Apenas depois, os reféns descobriram que o próprio assaltante tinha se ferido. “O começo foi angustiante, mas depois a gente foi entender o que estava acontecendo”, comenta.

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Após o roubo, Luís Cláudio diz que ficou por um longo período traumatizado, principalmente na hora de frequentar agências bancárias. “Quando entrava (em um banco), parecia que voltava à cena, de ver os policiais ao fundo... Era muito novo e também ficava mal quando via um policial com uma arma”, exemplifica.

O hoje pastor revela que ainda encontra pessoas que foram reféns na época e conta uma curiosidade: um dos sequestradores do banco, que foi morar em Faxinal depois de cumprir a pena, chegou a ser contratado na lanchonete da família como empregado. “Um deles seguiu a vida aqui e tem relacionamento normal na cidade. É uma pessoa boa”, comenta, reforçando a tese de que a maioria dos autores do assalto não tinha experiência e trajetória no mundo do crime.

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A libertação foi um momento de emoção. Os assaltantes queriam um ônibus para fugir e mais 200 milhões de cruzados, na época. “A gente percebeu que havia uma negociação e que iria ocorrer a rendição. Eles reuniram os reféns e anunciaram que iriam se entregar à polícia. Foi um momento emocionante, porque nós tínhamos medo que, com o ônibus, eles poderiam levar alguns reféns junto”, lembra.

Uma reportagem de uma rede nacional de televisão está disponível no Youtube e mostra o exato momento em que os bandidos se entregam. Os reféns saem da agência, que é tomada por familiares e curiosos. “Conforme os reféns foram saindo do banco, a gente ouviu o povo gritando e pudemos reencontrar a família. Foi muito emocionante”, conta.

IRMÃO DE REFÉM FICOU CONHECIDO NA TV

Do lado de fora da agência, o irmão de Luís Cláudio acompanhava angustiado o desenrolar do sequestro. Com 14 anos, Fernando Decarle Campos, hoje com 43, acabou sendo o centro das atenções da imprensa. Deu muitas entrevistas e foi um dos primeiros a encontrar o irmão quando os reféns foram libertados. Até hoje, Luís Cláudio brinca com o irmão. “Ficou famoso às minhas custas”, diz, em tom de brincadeira.

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Fernando, que é o atual secretário de Saúde de Faxinal, também não esquece daqueles dias. Ele lembra que a possibilidade de o irmão ser libertado sempre era apresentada à família, pois se tratava de uma criança. “Dois idosos foram libertados antes e, em algum momento, surgiu a notícia que eles iriam pedir também a saída do Luís Cláudio. A informação que chegou é que ele não queria sair”, conta.

 Fernando Campos, hoje e na época do sequestro
Foto por TN
Fernando Campos, hoje e na época do sequestro

Essa decisão, é claro, desagradou a mãe. Hoje, o próprio Luís Cláudio esclarece que não foi bem assim, pois foi “convencido” a ficar pelos demais reféns temerosos. “Foi um momento difícil, mas, graças a Deus, ocorreu tudo bem no final”, afirma. Lado a lado, em frente ao Banco do Brasil, os irmãos ainda se emocionam ao lembrar daqueles dias de sequestro.

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POLICIAL CIVIL FOI O PRIMEIRO A CHEGAR

O policial civil João Pereira da Silva, de 61 anos, foi o primeiro a chegar à agência do Banco do Brasil. Hoje aposentado, ele tinha 31 anos na época e era o único policial civil de plantão.

“Populares me pararam, dizendo que tinha alguma coisa estranha no banco. Peguei a arma e entrei pela lateral. Fui recebido a tiros e começou uma gritaria. Conseguimos fazer um cerco e então foram chegando outros policiais militares, depois um grupo especializado de Curitiba”, conta João Tira, como é conhecido.

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 Ex-policial João Pereira da Silva foi o primeiro a chegar à agência
Foto por TNOnline/Lis Kato
Ex-policial João Pereira da Silva foi o primeiro a chegar à agência


Ele revela que, somente depois do fim da ocorrência, é que o ferimento foi confirmado no próprio assaltante. O policial afirma que, caso não tivesse tentado entrar na agência, os bandidos teriam conseguido êxito no assalto.

Com a presença do policial e a chegada de viaturas da PM, eles fecharam as cortinas da agência e deram início ao sequestro dos clientes e funcionários, que começou às 12h45 de quarta-feira (15 de dezembro de 1993) e terminou apenas às 22h20 de sexta-feira (17 de dezembro de 1993).

Por Fernando Klein e Lis Kato

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