Na manhã de 9 de agosto de 2024, uma sexta-feira, o voo 2283 da empresa Voepass decolou de Cascavel, no Oeste do Paraná, às 11h50, com destino ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A chegada estava prevista para as 13h45. Porém, cerca de 20 minutos antes do pouso, a aeronave caiu em Vinhedo, no interior paulista.
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O avião modelo ATR levava 58 passageiros e quatro tripulantes — um total de 62 pessoas. De acordo com dados técnicos, a queda de aproximadamente quatro mil metros ocorreu a uma velocidade estimada em 440 km/h.
Um relatório preliminar do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) revelou que, pouco antes da queda, os tripulantes discutiam uma falha no sistema de proteção contra formação e acúmulo de gelo nas asas.
Paralelamente, a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar o caso. No processo, há o registro de um áudio em que um funcionário da manutenção da Voepass admite ter omitido do diário de bordo uma falha crítica no sistema de degelo. A informação foi confirmada pelo advogado da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283, Leonardo Amarante.
“Essa testemunha realmente existe, ela já prestou depoimento e o inquérito corre em segredo de justiça”, afirmou o advogado.
Lembranças que o tempo não apaga
Entre as vítimas estava Liz Ibba, de apenas três anos, que viajava com o pai, Rafael Fernando dos Santos, de 41 anos, para comemorar o Dia dos Pais. A mãe, a jornalista Adriana Ibba, relata que, desde o acidente, mantém o quarto da filha intocado.
“Eu fiquei guardando por uns nove meses na geladeira os sucos de uva, iogurtes, todos vencidos. O quarto dela está intacto. Para as pessoas podem ser só objetos, mas para mim são as coisas mais preciosas que me restaram. Quando estou muito agoniada, abro os armários, cheiro as roupinhas… e isso, de certa forma, me acalenta”, desabafa.
Fátima Albuquerque, presidente da Associação dos Familiares das Vítimas, perdeu a filha Arianne Albuquerque Risso, de 34 anos, que viajava para São Paulo para participar de um congresso de medicina.
“Nem sei como passei por tudo isso. Acho que foquei na luta por buscar a verdade e honrá-los. Foi um ano de adoecimento físico e depressão, mas tenho resistido e lutado pela minha filha”, afirma.
Investigações e cobranças
Sem prazo para divulgação do relatório final do Cenipa, familiares aguardam a conclusão das análises para que as causas do maior acidente aéreo brasileiro em 17 anos sejam oficialmente conhecidas. A Polícia Federal, por sua vez, investiga as responsabilidades criminais.
A Câmara dos Deputados instalou uma comissão externa para acompanhar o caso. O relatório do grupo será apresentado na próxima quarta-feira (13).
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) cassou definitivamente o certificado de operações da Voepass dez meses após a tragédia. Nesse período, a empresa operou 2.600 voos com aeronaves que, segundo as investigações, não receberam manutenção adequada.
O Cenipa deve apresentar, no relatório final, recomendações de segurança com base nas causas identificadas.
Em nota, a Voepass declarou que segue solidária às famílias das vítimas, “compartilhando uma dor que permanece presente”. A empresa também destacou que o relatório preliminar atestou que a aeronave estava com o certificado de navegabilidade válido e reforçou que apenas o Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, o que provocou o acidente.
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