Pacientes atendidos pelos planos de saúde têm, em média, mais que o dobro de acesso a exames de diagnóstico por imagem em comparação com os usuários exclusivos do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa é uma das conclusões de levantamento realizado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), que será lançado nesta quinta-feira (18), em Curitiba (PR), durante o 54º Congresso nacional da especialidade.
O Atlas da Radiologia no Brasil 2025, elaborado com base em informações oficiais do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de 2014 a 2023, entre outras fontes, também analisa a distribuição e a oferta de equipamentos, bem como sua produção.
Foram avaliados os critérios relacionados a cinco aparelhos considerados fundamentais para esse tipo de exames: raio X (exceto odontológicos), mamógrafo, ultrassom, tomógrafo computadorizado e ressonância magnética. Segundo o CBR, a disponibilidade desses equipamentos tem impacto direto sobre o acesso da população aos exames.
SUS x Planos
Em 2023, o Brasil realizou 169.630.961 exames de diagnóstico por imagem, para uma população estimada em 211 milhões de habitantes. Desse total, o SUS foi responsável por 101.772.408 exames (60%), atendendo aproximadamente 160,4 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente da rede pública.
Por sua vez, os planos de saúde, que atendem cerca de 51,2 milhões de beneficiários, registraram 67.858.553 exames de imagem em 2023 (último dado disponível), ou seja, 40% do volume produzido no País. Porém, apesar dos dados absolutos favorecerem a rede pública o mesmo não ocorrre na avaliação proporcial dessa produção.
No período analisado, a rede pública apresentou uma razão de 634,41 exames por grupo de mil usuários do SUS. Os dados ressaltam que, ao longo do período analisado, esse serviço apresentou crescimento expressivo, reduzindo parcialmente a diferença em relação ao setor privado. Porém, mesmo com esses avanços, a proporção de exames de imagens realizados pelos planos é mais do que o dobro, chegando a 1.323,37 por grupo de mil beneficiários.
Modalidades
Contudo essa proporção varia de acordo com a modalidade do exame de imagem realizado. Os raios x apresentam uma diferença bem menor: enquanto no SUS eles correspondem a 401 exames por grupo de mil usuários nos planos de saúde esta razão fica em em 544 por mil beneficiários. Ou seja, na rede suplementar o acesso e 1,36 mais facilitado do que nos serviços do governo.
Por sua vez, essa diferença chega a 13,13 no caso das ressonâncias magnéticas. Os dados revelam uma produção de 13,8 exames desse tipo para cada mil usuários na rede pública contra 181,22 por grupo de mil beneficiários dos planos de saúde. Outras modalidades de exames também apresentam diferença maior do que a média nacional: mamografia (acesso 3,54 mais facilitado nos planos do que no SUS), tomografia computadorizada (2,87) e ultrassonagrafia (2,49).
O diagnóstico por imagem é ferramenta decisiva na medicina ao oferecer suporte para detecção precoce, diagnóstico preciso e acompanhamento de doenças. Entretanto, a existência e a distribuição dos equipamentos ainda refletem desigualdades estruturais do sistema de saúde brasileiro e impactam o acesso da população a exames de imagens.
ACESSO AMPLO – Para mensurar as disparidades, o Atlas utiliza o Indicador de Desigualdade Público-Privado (IDPP), desenvolvido no âmbito da publicação a partir de metodologia já reconhecida em estudos de demografia médica. O índice corresponde à razão entre a densidade de exames produzidos na rede privada e a densidade dos mesmos exames na rede pública, considerando a população atendida em cada sistema.
Para o presidente do CBR, Rubens Chojniak, os dados ajudam a identificar e orientar o planejamento estratégico. Na avaliação dele, os números evidenciam as diferentes realidades vividas pela rede pública e pela saúde suplementar, além de particularidades regionais resultantes da concentração de equipamentos, complexidade dos exames, disponibilidade de profissionais qualificados e impacto nos custos assistenciais.
“O objetivo do CBR com o Atlas é oferecer um retrato atualizado da especialidade, reunindo informações sobre a distribuição de radiologistas, a formação profissional e a disponibilidade de equipamentos, dados fundamentais para orientar políticas públicas e decisões de investimento no setor privado”, destaca o presidente do CBR, Rubens Chojniak.
Na avaliação do CBR, exames mais baratos, mas de baixa resolutividade, encarecem as despesas. Por outro lado, exames mais especificos, com custo mais elevado, podem ajudar na redução de despesas globais ao serem mais precisos nos diagnósticos e apoiando decisões terapêuticas. Contudo, alerta Rubens Chojniak, essa escolha deve ser precedida de estudos de avaliação econômica e custo-efetividade que orientem sua adoção em maior escala.
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