Indígenas são resgatados de condições análogas à escravidão no PR
Ao todo, 46 indígenas da etnia Guarani Kaiowá foram recrutados em suas aldeias no MS com a promessa de emprego em uma usina de cana-de-açúcar

Uma força-tarefa coordenada pela Auditoria-Fiscal do Trabalho resgatou 57 trabalhadores de condições análogas à escravidão em Itambé, no norte do Paraná. Do total, 46 são indígenas da etnia Guarani Kaiowá, recrutados em suas aldeias no Mato Grosso do Sul com a promessa de emprego em uma usina de cana-de-açúcar.
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A operação, iniciada em 16 de outubro e divulgada nesta quarta-feira (22), é considerada o maior resgate de trabalhadores nesta situação no Paraná nos últimos anos, segundo a Secretaria de Inspeção do Trabalho, vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego.
As vítimas foram encontradas em um alojamento superlotado e insalubre, dependendo de doações para se alimentar. Um dos trabalhadores chegou a ser hospitalizado após ser picado por uma aranha no local, que acumulava lixo e não possuía armários ou estrutura básica de higiene.
Os nomes da empresa terceirizada que realizou o recrutamento e da usina de açúcar que receberia os serviços não foram divulgados.
A investigação revelou um esquema de "servidão por dívida". Antes mesmo de deixarem o Mato Grosso do Sul, os trabalhadores foram coagidos a comprar produtos em um supermercado específico, gerando uma dívida coletiva estimada em R$ 45 mil, que seria descontada de seus futuros salários.
O recrutamento foi realizado por uma empresa terceirizada, com sede em São Paulo, em três aldeias diferentes. O grupo iniciou o trabalho na usina, localizada em São Pedro do Ivaí, em 14 de julho.
Contudo, após um rompimento de contrato entre a usina e a empresa recrutadora, os trabalhadores foram impedidos de continuar suas atividades e abandonados no alojamento em Itambé, a 34 quilômetros do local de trabalho. Sem receber salários, sem registro em carteira e sem terem passado por exames admissionais, eles ficaram sem meios de subsistência ou de retorno para casa. O aluguel do imóvel onde estavam alojados também não estava sendo pago.
Os auditores-fiscais do Trabalho responsabilizaram tanto a empresa terceirizada quanto a usina tomadora do serviço pelas condições degradantes impostas aos trabalhadores.
Em uma negociação que contou com a participação do Ministério Público do Trabalho (MPT) и Polícia Federal (PF), a usina se comprometeu a quitar todas as verbas salariais e rescisórias devidas ao grupo. Segundo a Secretaria de Inspeção do Trabalho, as investigações prosseguem para apurar a responsabilidade criminal e por danos morais coletivos.
As vítimas receberão o suporte necessário para retornar às suas cidades de origem no Mato Grosso do Sul.
