As investigações sobre o desaparecimento de quatro homens em Icaraíma, no noroeste do Paraná, avançaram nas últimas semanas e trouxeram novos elementos que reforçam a suspeita de que eles tenham sido vítimas de uma emboscada. Diego Henrique Afonso, Rafael Juliano Marascalchi, Robishley Hirnani de Oliveira e o produtor rural Alencar Gonçalves de Souza estão desaparecidos desde o dia 5 de agosto, quando foram vistos pela última vez em uma padaria da cidade. O grupo havia viajado para a região com o objetivo de cobrar uma dívida ligada à venda de uma propriedade rural.
Últimos passos das vítimas
Os três homens de São José do Rio Preto (SP) chegaram a Icaraíma em 4 de agosto, contratados por Alencar para cobrar uma dívida de mais de R$ 250 mil da família Buscariollo. No dia seguinte, os quatro foram registrados por uma câmera de segurança em uma panificadora da cidade. Após esse momento, não houve mais contato com as famílias, que registraram boletim de ocorrência.

Picape enterrada e novas pistas
A principal reviravolta na investigação ocorreu em 12 de setembro, quando a caminhonete Fiat Toro usada pelas vítimas foi localizada enterrada em uma área de mata fechada, a cerca de 10 quilômetros de uma propriedade vinculada à família suspeita. A descoberta só foi possível após a polícia receber uma carta anônima e a colaboração de um informante. Na madrugada do dia 13, o veículo foi desenterrado e periciado. Os investigadores encontraram marcas de disparos de grosso calibre no para-brisa e na lataria, além de vestígios de sangue nos bancos. A perícia trabalha com a hipótese de que os quatro homens tenham sido atingidos ainda dentro do carro e depois retirados do local.
Durante as buscas na região, dois dias depois, policiais localizaram também munições calibre 9 milímetros em uma propriedade que já pertenceu a Alencar, hoje em nome dos suspeitos. Outros objetos foram recolhidos, mas o conteúdo não foi divulgado pela Polícia Civil.
Suspeitos e dívida investigada
Os principais investigados são Antonio Buscariollo e seu filho, Paulo Ricardo Costa Buscariollo. Ambos confirmaram à polícia que havia uma negociação envolvendo a compra de uma propriedade de Alencar, no valor de R$ 255 mil, mas afirmaram não ter ligação direta com a dívida. Após prestarem depoimento, pai e filho deixaram a região e não foram mais encontrados. A Justiça expediu mandados de prisão temporária contra eles, que seguem foragidos. A defesa dos suspeitos nega envolvimento e afirma que ambos saíram da cidade por medo. Familiares próximos, que também viviam na propriedade, desapareceram e são investigados, mas os nomes não foram revelados.
De acordo com a Polícia Civil, o contrato da negociação previa dez notas promissórias de R$ 25 mil cada, nenhuma delas paga. Essa seria a cobrança feita por Robishley, Rafael e Diego, que atuavam há mais de uma década no ramo de recuperação de dívidas. Familiares das vítimas, no entanto, mencionaram valores diferentes em depoimentos, que variaram entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão.
Buscas em poços desativados
Com o avanço da investigação, a Polícia Civil passou a trabalhar com a hipótese de que os corpos das vítimas tenham sido ocultados em dois poços desativados próximos ao Porto Jundiá, na região de Vila Rica do Ivaí. A área é de mata fechada e de difícil acesso. As buscas contam com apoio da Força Nacional, além de cães farejadores, drones e equipes de mergulhadores. Até o momento, não há confirmação oficial sobre a localização dos quatro desaparecidos.
Caso complexo e sem solução
O secretário de Segurança Pública do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira, afirmou que a descoberta da caminhonete representou um avanço importante no caso. Já o delegado Gabriel Menezes, responsável pela investigação, reforçou que a principal linha de apuração aponta para uma emboscada ligada à dívida da propriedade, mas destacou que detalhes da operação seguem em sigilo para não comprometer o trabalho policial.
Passados 42 dias do desaparecimento, familiares seguem sem respostas e as buscas continuam intensas em Icaraíma. O caso, que envolve uma dívida milionária, suspeitos foragidos e a descoberta de um carro enterrado com sinais de execução, já é considerado um dos mais complexos e misteriosos da história recente do Paraná.
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