Dupla sul-africana Die Antwoord leva maçaroca sonora ao Lolla
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Acha Lady Gaga bizarra?
Bom, ela se declarou fã da dupla sul-africana Die Antwoord, mas Ninja e Yo-Landi Vi$$er a consideram um tanto "mainstream".
Como resposta, o casal -que tocou no Lollapalooza Brasil na noite deste sábado (12)- tirou sarro dela e do seu famoso vestido de carne crua (Yo-Landi é vegana).
No clipe "Fatty Boom Boom", uma sósia de Gaga embarca num carro tipo safári, escapa de um tiroteio e encontra um médico chinfrim, que a põe numa cadeira tipo consultório de dentista e extraí um inseto de sua vagina. Ela termina devorada por um leão.
Esta pequena introdução ao Die Antwoord ("a resposta", em africâner; pronuncia-se "dii éntvuórt") ilustra bem o estilo "dane-se" do casal. A bem da verdade, eles não titubeariam em usar o palavrão que começa com "f" para se autodescrever (no dialeto deles, se diz "fokken").
Claro que dá para questionar o quão autêntico é o estilo "bad ass" de uma atração escalada para o palco batizado com nome de um dos patrocinadores do festival: a marca de desodorante do slogan "find your magic" (encontre sua mágica).
A mágica do Die Antwoord é justamente dar vazão a esta ânsia tipicamente juvenil de mandar a sociedade para aquele lugar, ainda que depois de mostrar o dedo do meio nas redes sociais possa postar uma foto de cupcake no Instagram.
Não era incomum encontrar fãs da atração seguinte, Marina and the Diamonds, ornados com fofas tiaras de chifre de unicórnio, vibrando com o deboche cheio de energia do Die –sobretudo nas faixas "Baby's on Fire" e "Ugly Boy".
Na maçaroca sonora do duo, comumente descrita como "rap-rave", sobram versos como "fuck your rules" (foda-se suas regras), de "Happy Go Sucky Fucky".
Mais do que a música, é a imagem que importa para sucesso do Die Antwoord. Amostras do que se pode esperar de um show de Ninja e Yo-Landi:
1) Projeções de Gasparzinho, o fantasminha camarada, ostentando uma baita de uma ereção (alguém da plateia define como o "Dollynho fálico");
2) Mais imagens perturbadoras, desta vez de um tipo peculiar de seu país: o branco marginalizado, numa estética que remete ao clássico de 1932 "Freaks". Ela vem de clipes como "I Fink U Freeky", feito em parceria com o fotógrafo Roger Ballen (que teve exposição em 2015 no MAC-USP);
3) Figurinos pop e bem urbanos. Os dois começam o show vestidos iguais: moletom laranja que lembra o uniforme de uma usina nuclear. Até o fim, trocam umas dez vezes de roupa. Para ele, peças como cueca samba-canção com estampa do "Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, e uma calça moletom decorada com folhas de maconha que brilham no escuro. Para ela, shorts tipo "hot pants" e tops com monstrengos no bojo. Estilo que levaram à ficção distópica "Chappie" (2015), que estrelaram a convite do diretor e conterrâneo Neill Blomkamp.
O show acaba com o maior hit deles, "Enter the Ninja", em que ele canta sobre sua vida ser "como um videogame". Faz sentido.
