Artista ouve relatos e pinta pedestres da "rua da Desilusão" em Madri
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DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - No centro de Madri, a uma quadra da icônica Gran Vía, um caminho segue por 200 metros sem nenhum atrativo e com um nome não muito alegre: "rua da Desilusão".
Não há ali nenhuma das lojas de grife dos arredores, e os bares modernos se esqueceram desse logradouro. Seus pedestres, no entanto, acabam de tornar-se arte.
A artista Desi Civera, 28, pintou entre junho e setembro o retrato de pessoas que conheceu ao acaso na tal rua desenganada. As ilustrações estão expostas em uma galeria a alguns quarteirões dali.
"Eu já conhecia a rua, e me chocava que tivesse esse nome", diz à reportagem enquanto mostra os retratos, feitos com tinta a óleo em madeira.
Civera convenceu 30 desconhecidos a entrar na galeria, sentar-se diante de uma câmera e falar sobre suas desilusões. Os personagens tiveram, também, que fazer um gesto que simbolizasse o sentimento diante daquela ideia e escolher uma palavra.
A cena foi transformada em vídeo. A artista recolheu então imagens das gravações e, a partir delas, pintou os retratos. Por fim, em alguns dias da semana uma atriz representa em 20 minutos, nesse espaço, uma breve peça teatral baseada na obra.
"Queria unir muitas pessoas em torno de uma mesma pergunta, de um mesmo sentimento", diz Civera. "Pedia a eles que pensassem na rua e olhassem à câmera."
As reações foram variadas. Um garoto ficou quieto e, de repente, se estapeou (escolheu a palavra "realidade". Uma prostituta brasileira preferiu "putaria"). Um menino sacou uma câmera e fotografou a máquina que lhe filmava, rindo. Uma menina vendou os próprios olhos.
SUPERAÇÃO
Civera nasceu em Valência, na Espanha, e estudou pintura em Milão. Suas obras já foram expostas em Berlim e em Londres. Aos 28 anos, está satisfeita com a carreira. Se puder escolher um novo projeto, quer repetir a mesma ideia, mas em outras cidades ao redor do mundo.
Ao contar a história dos retratos à reportagem, a artista se lembra dos detalhes de cada um dos 30. "Valorizo o esforço dessas pessoas. Eles colaboraram sem me conhecer. Não esperava isso."
Ela conta que os seus retratados voltaram à galeria para ver as ilustrações. Com alguns, ela ainda mantém o contato - até porque cruza com eles quando anda pela rua da Desilusão, a caminho de seu trabalho como professora de pintura.
Ao contrário do que imaginou quando começou o projeto, porém, a artista não chegou ao seu fim em uma nota triste. Os seus personagens de fato lhe contaram as histórias de suas desilusões, mas a partir do enredo de como eles as superaram.
"Isso mudou a minha ideia sobre a desilusão, de que tinha de ser alguma coisa triste. Quando eles me contavam, era com felicidade, a partir de alguma coisa que tinham vivido", afirma.
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