Leia a última edição
--°C | Apucarana
Euro
--
Dólar
--

Entretenimento

publicidade
ENTRETENIMENTO

É complicado termos virado paladinos da liberdade, diz cartunista do Charlie

Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no WhatsApp Compartilhar no Telegram
Siga-nos Seguir no Google News
Grupos do WhatsApp

Receba notícias no seu Whatsapp Participe dos grupos do TNOnline

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, ENVIADA ESPECIAL
PARATY, RJ (FOLHAPRESS) - Faça-me rir, doa a quem doer? Não é bem assim. Na mesa "De Balões e Blasfêmias", a terceira deste sábado (4), na Flip, os cartunistas franceses Plantu e Riad Sattouf mais o brasileiro Rafael Campos Rocha debateram como rabiscos numa folha de papel podem mudar o mundo -para o bem ou para o mal.
Questionado sobre qual seria sua missão como desenhista, Campos Rocha brincou: "Irritar o máximo de pessoas que puder, e pelo feedback tenho conseguido". Fala-se muito do terrorismo lá fora. Mas, para o autor de "Deus, essa Gostosa" (Quadrinhos na Cia.), o Brasil também não está de brincadeira. "Somos o Terceiro Reich do índio, o Talibã da mulher e a Ku Klux Klan da população negra. É um país violento. Matamos um milhão assassinados em 20 anos", disse, com "feedback" positivo desta vez: o público o aplaudiu mais de uma vez.
Ex-colaborador do "Charlie Hebdo", alvo de ataque terrorista com saldo de 12 mortos em janeiro, Riad questionou se é justo carregar um peso tão grande nas costas. "De uma hora para outra, fomos vistos como paladinos da liberdade de expressão, e isso é complicado", disse em entrevista antes do debate. "De repente viramos especialistas em geopolítica, mas na verdade o cartunista é alguém muito tímido, sem muito sucesso sexual com mulheres. Não tem alguém mais afastado dessa coragem toda."
Ele disse que o traço mais ofensivo que já fez foi o de sua mãe -deu-lhe "um nariz muito grande, e ela não ficou feliz". No premiado "O Árabe do Futuro", o filho de francesa com sírio retrata sua infância entre 1978 e 1984, na Líbia de Gaddafi e na Síria de Assad. O pai, um idealista "de extrema-direita", descartou um posto de professor na Oxford para trabalhar no plano educacional das ditaduras.
Plantu, cartunista político por excelência, há três décadas assina a charge na primeira página do "Le Monde". Em 2006, criou a ONG Cartooning for Peace (cartunistas pela paz) como resposta à polêmica provocada por uma charge dinamarquesa na qual o turbante do profeta Maomé.
Para o francês, é preciso "prestar mais atenção hoje" para encontrar a fórmula de exercer "a liberdade de expressão sem humilhar ninguém". Plantu mostrou imagens de vários colegas, inclusive a foto no hospital do quadrinista sírio Ali Ferzat. Ele, que já enfureceu ditadores como Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e o conterrâneo Bashar Al-Assad, foi espancado e teve os dedos das mãos quebrados "como aviso".
Mediador do bate-papo e outro grande nome da HQ brasileira, Claudius lembrou que também no Brasil as coisas podem ficar feias para quem faz graça contra poderosos. Apparício Torelly, o nobre confessadamente fajuto Barão de Itararé (1895-1971), é um bom exemplo. Ele ridicularizava o governo Getúlio Vargas no jornal satírico "A Manha".
Certo dia, recebeu a visita dos homens de Filinto Müller, chefe de polícia do estadista. "Müller quebrou tudo e bateu nele. No dia seguinte, o barão arrumou as coisas e pendurou na porta o cartaz: 'Entre sem bater'", contou Claudius. Os três cartunistas exibiram trabalhos em que deram a cara a tapa.
Colaborador do caderno "Ilustríssima", da Folha de S.Paulo, Campos Rocha explicou que, em "Deus, essa Gostosa", quis mostrar como é alguém "tentando levar uma vida de pequena burguesa sendo a divindade máxima do universo -e gostosa". "Deus costuma ser branco, velho, casto e autoritário. Quis fazer um Deus que eu achasse legal. E era uma mulher jovem e negra, inversão total dos valores."
Para ele, incomodar alguém faz parte do pacote. "Tem gente burra em todo lugar, não é só na religião". Campos Rocha, que em 2010 fez troça com o público da Flip ao dizer que estavam tentando "rebaixar os quadrinhos ao nível da literatura", exibiu outros trabalhos fortes. Num deles, um garoto vítima dos atentados terroristas durante a maratona em Boston não consegue entrar no céu. "A fila está cheia de outras crianças que morreram em bombardeios americanos."
O canhoto Plantu, que passou o debate deslizando os dedos num tablet para desenhar os colegas (Campos Rocha apareceu com uma auréola, e Riad com mais cabelo do que tem), também trouxe uma série de trabalhos seus. O portfólio ia de bispos católicos com garotinhos a Dominique Strauss-Kahn, ex-número 1 do FMI que caiu após escândalo envolvendo uma camareira e um sexo oral forçado, cavalgando em um grande pênis.
Riad contou como foi retratar o pai, um homem "muito educado, mas que queria um golpe de estado e vivia dizendo 'esse aí eu fuzilaria'". Não quis comentar se a história de "O Árabe do Futuro" desagradou seu velho. Essas impressões, disse, estarão na segunda parte da saga.

Gostou da matéria? Compartilhe!

Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no WhatsApp Compartilhar no Email

Últimas em Entretenimento

publicidade

Mais lidas no TNOnline

publicidade

Últimas do TNOnline