Fernando Meirelles critica políticos brasileiros em artigo no "The Guardian"

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em artigo publicado no jornal inglês "The Guardian", nesta quinta-feira (19), o cineasta Fernando Meirelles fez duras críticas ao governo brasileiro.
Intitulado "O Brasil teve muitas promessas não cumpridas", o texto busca explicar os fatores que desencadearam as manifestações da última semana e traz o ponto de vista do diretor sobre o atual momento político do país.
"Dilma Rousseff vem mostrando um governo cada vez mais comprometido e inepto. Não me surpreendem os pedidos de impeachment", escreve Meirelles logo após o título do artigo.
Ao longo do texto, o diretor de "Cidade de Deus", "O Jardineiro Fiel", entre outros filmes, tenta reconstruir o cenário que levou Dilma Rousseff à presidência, resgatando o primeiro mandato de Lula, eleito em 2002, e mostrando a relação entre os dois políticos.
Em certo trecho do artigo, ele cita a incapacidade do PT de romper com o esquema de corrupção vigente no país.
"Não foi o PT que inventou a corrupção no Brasil. Aqui, as campanhas políticas são financiadas por empresas. Na maioria das vezes, por empreiteiras que, mais tarde, pedem o reembolso em contratos de licitação. Esse sistema absurdo se arrasta por anos."
"Mas todos pensavam que um partido de esquerda que pregava a transparência seria capaz de mudar o quadro. Isso não aconteceu e a paciência da população se esgotou, como demonstrado nos protestos."
O cineasta afirma ainda que a presidente está "isolada", tendo que lidar com o aumento da inflação, com a crise de água e energia e com as investigações sobre os desvios de verbas da Petrobras -"a maior empresa do país".
"Boa parte da população acredita que a presidente sabia sobre Petrobras."
Por fim, Meirelles adota um tom mais otimista, ao contar que alguns executivos das maiores construtoras do país foram presos e que há grandes chances de congressistas envolvidos no esquema serem punidos.
"Se eles receberem a pena que merecem, será o início de um processo ansiosamente esperado de reforma política. Como em todas as crises, a oportunidade está sempre no horizonte."