O discurso subliminar da animação Rio 2
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O simples fato de ser a máquina de propaganda do império (também chamada de indústria cinematográfica norte-americana) a mirar seu arsenal de arquétipos e mensagens subliminares ao Brasil – nesse momento em que todo o mundo lança olhos ao país sul-americano – faz de Rio 2 uma animação infantil para se assistir de orelhas em pé.
Após constituir família e se mudar para o Brasil no primeiro filme, Blu (a arara macho norte-americana) vive feliz no Rio de Janeiro com a companheira e três filhotes, quando seus donos, pesquisando a floresta amazônica, encontram, por acaso, uma pena de ararinha azul. Assim, todos partem rumo à selva, em busca de outros membros da espécie, antes ameaçada de extinção. Isso mesmo. Apesar do título, de Rio de Janeiro mesmo só breves imagens de favelas com prédios em segundo plano, praia e alguns mulatos sambando. A história se passa na floresta amazônica.
Domesticada, Blu enfrenta dificuldades de adaptação na mata. Não tem noções de sobrevivência e é preguiçoso. Foi ele quem determinou a derrota de sua espécie numa partida de futebol, que era a forma das aves – brasileiras – disputarem território. Entretanto, na hora da defender a floresta contra uma ameaça real, os desmatadores – brasileiros –, foi a avezinha norte-americana quem liderou a ofensiva vencedora dos nativos. É evidente o analogismo: vocês entendem de futebol; nós, de proteção (guerras?).
Outros elementos conotam inferioridade brasileira. Um deles é a cacatua macho vaidosa que, com asas cortadas, fracassa na tentativa de vingança contra as araras. Detalhe: do começo ao fim, o pássaro usa vestimenta verde e amarela, uma notável intenção de associar o Brasil à ave que não decola. Sem contar que, no auge do MMA, o filme caçoa de uma das mais conhecidas artes marciais brasileiras, colocando duas tartarugas para lutarem capoeira.
Com esses subsídios já é possível interpretar o discurso implícito da obra: uma riqueza natural exuberante como a da floresta amazônica precisa ser pesquisada e resguardada e ninguém melhor para fazê-lo do que os EUA – a maior potência científica e bélica do mundo. Afinal, os brasileiros mal conseguem protegê-la deles mesmos. A sacada foi aplicar a sugestão, subliminar e covarde, nas indefesas consciências infantis, que, naturalmente, recebem sem nenhuma resistência. E serão elas quem tomarão as decisões no futuro...
Apesar do exclamado interesse norte-americano pela Amazônia, presente em diversos discursos políticos por lá, sempre haverá quem atribua tantas ‘coincidências’ ao acaso. Não sejamos inocentes: nada é por acaso perante a receita de US$ 103 milhões. Será que a indústria cinematográfica não lança mão dos milhares de estudos sobre o comportamento e o inconsciente humano para atingir seus objetivos comerciais e ideológicos? Hoje, a grande batalha globalizada é mental e, quem não se apercebe disso, paga o preço da alienação.
* Cássio Gonçalves é músico e jornalista
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