O mercado de juros dedicou a sexta-feira à realização de lucros após a forte queda das últimas sessões, o que puxou as taxas hoje para cima. A correção, contudo, foi bastante parcial comparada ao volume de prêmios devolvidos, uma vez que não houve mudanças na percepção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve suavizar o ciclo de alta da Selic, enquanto no ambiente externo não há sinais concretos de evolução nas negociações tarifárias entre China e EUA. O IPCA-15 de abril, em linha com o esperado, foi visto como neutro para a dinâmica da curva.
A taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,630%, de 14,572% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027, em 13,88%, de 13,79%. A do DI para janeiro de 2029 subiu de 13,55% para 13,59%.
Apesar do avanço de hoje, as taxas acumularam queda na semana, recuando em todos os trechos, com mais força no longo prazo, o que resultou em perda de inclinação em relação aos níveis de quinta-feira passada. "A semana foi muito boa para quem está aplicado. Ontem principalmente pós-Diogo. É normal haver alguma realização", afirma o economista-chefe da Meraki Capital, Rafael Ihara.
"Houve uma reação bem forte às falas dos diretores do BC no FMI, e o pessoal vendo uma mensagem ultradovish deles. Hoje a curva devolve um pouco, não muito, bem menos do que caiu", endossa o economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal.
Segundo Rosal, as taxas tiveram um pico de estresse à tarde, em meio a ruídos causados por declarações de Trump, que teriam reforçado a percepção de que um acordo com a China está muito distante. "Fez um pouco de preço, principalmente na parte curta, mas nada muito fora do padrão. O mercado está num nível de sensibilidade tal, que qualquer headline, qualquer manchete relacionada a Trump e tarifas faz preço. Não tem nada de novo. Mas só o fato dele se manifestar já causa ruído", afirmou.
Mais cedo, Trump reiterou que conversou "muitas vezes" com o presidente da China, Xi Jinping, enquanto representantes chineses disseram que as duas potências econômicas não tiveram qualquer diálogo. À tarde, a sensação de diz-que-diz-que aumentou, quando Trump afirmou que os Estados Unidos não vão abandonar as tarifas a menos que o país asiático dê algo em troca e que a "abertura da China seria uma grande vitória". Ele afirmou ainda ser improvável conceder outra pausa de 90 dias nas tarifas.
"Foi mais uma corcunda. Foi e voltou", resumiu Rosal sobre a reação da curva, acrescentando que o mercado hoje foi "largamente insensível aos dados do IPCA-15". A inflação de 0,43% desacelerou em relação a março (0,64%) e ficou praticamente em linha com a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 0,42%.
"O IPCA-15 veio neutro. De um lado, a difusão aumentou e os preços dos alimentos parecem mostrar alguma resistência no curto prazo. Por outro lado, a variação no mês e a inflação de serviços subjacentes mostraram uma dinâmica menos preocupante", afirmou Hélcio Takeda, economista da Pezco.
Desse modo, o dado não altera a percepção de que o Copom pode ter condições já de encerrar o ciclo de altas da Selic, aplicando um último aumento da taxa em maio, alimentada pelas declarações dos diretores Nilton David (Política Monetária), Diogo Guillen (Política Econômica) e Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais) nesta semana. Eles sinalizaram que a taxa está em nível bastante restritivo e que o aperto da política monetária talvez já tenha efeitos sobre a atividade, ainda que os sinais sejam incipientes.
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