Ester Garcia, de 22 anos, conseguiu ouvir a voz de sua mãe pela primeira em sete anos, nessa quinta-feira (17). A jovem começou a perder a audição aos 11 anos e ficou completamente surda com 15. No entanto, conseguiu realizar nesta semana o sonho de colocar implantes auriculares.
Aos 11 anos, Ester conta que começou a ter dificuldades para escutar sua própria voz. “Um dia, observando um passarinho cantando, me dei conta que não escutava ele, mesmo sabendo que ele estava ali, cantando”, conta. “Repeti meu nome naquele instante em voz alta, e não escutei minha voz de maneira clara”.
A jovem, que passava por dificuldades financeiras com a família, juntou o dinheiro que ganhava como babá, e foi a uma consulta particular com uma fonoaudióloga. O exame inicial mostrou que ela tinha perda bilateral severa, e que, possivelmente, iria perder ainda mais a sua audição. “Naquele dia, saí do escritório dela chorando como nunca. Para mim, minha vida tinha acabado, eu estava entrando em processo de me desconectar do mundo”, relembra.
Ester conta que sofreu bullying na escola por não ter a audição e chegou a pensar em largar os estudos. “Perdi amigos, alguns alunos riam, zoavam, e tive até a cabeça enfiada em um vaso sanitário. Eu era a ‘’estranha’’, era alvo de piadinhas e de agressões físicas”, diz a jovem, que chegou a tentar suicídio com uma overdose de medicação.
Nesse momento, ela decidiu focar nos estudos com a ajuda de uma amiga de infância, que repetia o que os professores falavam para que ela escutasse. “Eu estudei nas madrugadas, nos fins de semana, a qualquer momento. Eu não queria perder nenhuma informação, eu queria estudar, dediquei toda a minha dor nos estudos”, conta. O esforço deu resultados: Ester foi aprovada no Enem para o curso de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A oportunidade de escutar novamente chegou neste ano, mas não foi vista como solução para um problema. “Nunca quis fazer o implante para conseguir ‘consertar’ algo em mim. Não me importo em ser surda, amo Libras, amo a comunidade surda, não existe problema nenhum na pessoa ser surda”, relata.
Ester conta que decidiu colocar o implante pois acredita que, com a audição de volta, poderia ter mais forças e acesso a inclusão para lutar contra o preconceito. No dia 11 de fevereiro, fez a cirurgia para implantar o aparelho, que só poderia ser ativado uma semana depois. “No momento em que ouvi o primeiro som, eu tive a certeza de que nada nem ninguém era capaz de me parar. Chorei de felicidade”, diz.
“Hoje, eu escuto minha voz depois de 7 anos em completo silêncio e ela me fez querer escutar a voz de cada um que passa ou passou pelo mesmo. Eu quero lutar por um mundo com menos preconceito, por um mundo mais inclusivo”, diz. E finaliza: “Minha luta começou aos 11, e não terminou agora aos 22 anos. Ainda tenho muito o que lutar, ainda tenho muita informação para dar. Sou grata por todo esse processo, mesmo que dolorido.”
Informações do Metrópoles
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