Jazigo de curandeiros em Arapongas atrai pedidos de milagre
Túmulo do casal Antônio e Cristina Pereira é destino de romarias e relatos de milagres desde a década de 1960

Um dos jazigos mais visitados no Cemitério Municipal de Arapongas (PR) é o de Cristina e Antônio Pereira, um casal que em vida era conhecido como curandeiro e, após a morte dela em 1962, teve o túmulo elevado à condição de milagroso, atraindo centenas de devotos de toda a região.
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O local é hoje um ponto de romaria, onde são deixadas dezenas de cartas, fotos e objetos em agradecimento às graças alcançadas ou em pedido por curas e milagres. No vidro do pequeno mausoléu, é comum ler mensagens escritas à mão que relatam a fé no casal, como o pedido de cura para um pai com câncer seguido pela gratidão: “Obrigado, ele foi curado”.
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A devoção em torno do casal é tão forte que o próprio jazigo foi erguido em cumprimento de uma promessa por um milagre. Segundo o neto do casal, José Garbelini, 70 anos, conhecido como Garbel, a construção foi paga por um policial apelidado de “Tamanduá-Bandeira”.
Na década de 1970, o oficial teria sido alvejado por tiros e, à beira da morte, rezou pedindo pela intercessão de Cristina. "Em pensamento, ele fez uma promessa, de que se ela intercedesse por ele aos pés de Nossa Senhora para que ele saísse dessa situação, ele levantaria uma capela lá no túmulo dela”, explicou Garbel. O policial se recuperou, e a promessa de erguer o mausoléu foi cumprida.
O início
A trajetória de Antônio e Cristina se entrelaça com a história da colonização de Arapongas e região. Em meados da década de 1930, eles fixaram residência na comunidade do Ceboleiro, em Rolândia. Nesse período, Antônio ficou doente, não conseguia dormir e emagreceu cerca de 30 quilos sem nenhum motivo aparente, mas ninguém descobria o que ele tinha. Por ser veterano da Revolução Constitucionalista de 1932, movimento liderado por São Paulo contra o governo de Getúlio Vargas, ele conseguiu um tratamento em um hospital da capital paulista.
Foi quando, de acordo com Garbel, ele teve uma visão de um homem inteiramente vestido de branco, com cabelo e barba grisalhos até o meio das costas, que entrou em seu quarto e disse que a cura para a sua doença, desconhecida por todos, estava no meio do mato em Rolândia. “Meu avô pensou que era um médico, mas era um anjo do Senhor que veio trazer essa notícia boa pra ele”, comentou Garbel.
Alguns dias após retornar ao Paraná, o casal teria testemunhado um clarão no quarto, seguido por uma voz que lhes anunciou a cura e uma missão. Ela teria dito que, a partir daquele dia, eles teriam o dom da cura: "Toda água que vocês receitarem será remédio. Toda erva será remédio. E todos aqueles que vocês puserem as mãos serão curados e libertados", disse a voz. A ordem era trabalhar de graça, apenas com a luz do sol e construir uma capela de palmito dedicada a Nossa Senhora Aparecida. Naquela mesma noite, após cinco anos sem dormir, Antônio adormeceu profundamente e acordou curado.
O casal iniciou os atendimentos, e a fama cresceu. A primeira cura notória foi a de uma mulher que o marido alegava estar "louca". Seguindo a orientação espiritual, Antônio disse ao homem para voltar para casa, pois a esposa estaria bem. Dias depois, o sujeito retornou com a família, confirmando a cura e relatando ter sido guiado até a casa de Antônio e Cristina por uma figura de branco, semelhante à descrita pelo próprio curador no hospital.
A popularidade, no entanto, atraiu a perseguição de profissionais da saúde de Rolândia, que viam seus negócios prejudicados. A prefeitura local foi pressionada e ordenou a demolição da capela de palmito com um trator.
Mudança para Arapongas
Expulsos de Rolândia, o casal recebeu auxílio de João Messias, um agrimensor que demarcava a futura cidade de Arapongas e cuja família havia sido curada pelo casal. Messias vendeu a Antônio um lote de um alqueire "a preço do Incra" no novo município. “Meu avô não queria aceitar, mas o ser de luz veio e disse que eles poderiam ir, mas que era para aceitar o menor lote que tivesse”, afirmou Garbel.
Por volta de 1942, a família se estabeleceu neste local, área rural de Arapongas, e construiu outra capela de palmito, como a anterior que havia sido destruída,
De lá para cá, a fama de Antônio e Cristina cresceu e ganhou força. Segundo Garbel, durante um surto de poliomielite, conhecida como paralisia infantil, eles curaram muitas crianças da doença. Em gratidão, eles receberam a doação de todo o material para a construção de uma capela de alvenaria, maior, inaugurada em 29 de junho de 1948. Devido ao intenso movimento de pessoas buscando cura, o prefeito Dr. Júlio Junqueira batizou a via de acesso ao local de "Estrada Curador", nome oficial que persiste até hoje.



