Um dos principais assuntos relacionados a recente visita do presidente Lula a Argentina no fim de semana, tem sido a possibilidade de criação de uma moeda comum entre os países. Ao saber da notícia, muitas pessoas entenderam que Brasil e Argentina poderiam criar algo como o euro, uma moeda única entre as duas maiores economias da América do Sul, que substituiria tanto o peso argentino como o real brasileiro.
No entanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desmentiu a notícia. Segundo ele, a moeda comum que os dois países estudam criar no futuro serviria apenas para facilitar transações comerciais sem a necessidade de recorrer ao dólar. Ela seria muito diferente do euro — que é uma moeda única que substituiu moedas nacionais em 20 dos 27 países da União Europeia. Na verdade, a proposta em estudo entre Brasil e Argentina mais parece uma moeda virtual — que não substituiria as moedas nacionais.
Na opinião do economista apucaranense Rogério Ribeiro, este estudo é complexo e demanda muito tempo e o envolvimento de economistas de todos os países envolvidos. O objetivo de uma união monetária passa por uma coordenação de política monetária única ou comum a todos os membros.
“Primeiramente, uma união monetária tem que ser precedida de uma união comercial, o que ainda não temos nos países do Mercosul e na América Latina como um todo. Ainda temos barreiras comerciais e os países membros possuem acordos bilaterais com economias de fora do bloco. Também deveria ter uma integração comercial, econômica e política, uma proximidade dos indicadores, o que não temos”, considerou.
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Segundo o economista, a alegação é a facilidade de se efetuar trocas entre os países membros, porém, isto não traria nenhuma vantagem ou benefício para nosso país, uma vez que os maiores parceiros comerciais são China e Estados Unidos, tendo a Argentina como terceiro maior parceiro comercial, o Chile em sétimo e depois o Paraguai, em vigésimo lugar.
“Não faz sentido a justificativa que é para facilitar o comércio, pois China, Estados Unidos, Alemanha, Índia e Holanda representam 47,5% de nossa corrente de comércio. Os países latino-americanos representam pouco mais de 10% da corrente de comércio com o Brasil. Num primeiro momento uma moeda única no Mercosul não beneficiaria em nada o Brasil. Talvez poderia ajudar os nossos parceiros locais, mas também acho difícil. O Uruguai está se organizando com parcerias com a China e Chile e Argentina possuem muitos parceiros fora do Mercosul”, detalhou.
De acordo com Ribeiro, do lado de política monetária a situação ficaria ainda mais complicada, uma vez que deveria se submeter às mesmas políticas monetárias e, com isto, o combate à inflação poderia não surtir efeitos num ou em outro país. Sem falar que muitos países latino-americanos emitem moeda sem muitas restrições e isto num regime de moeda única não seria possível, uma vez que sua emissão fica sob o controle de uma autoridade monetária única.
“Manter as suas moedas e ter uma moeda única para transações comerciais é uma insanidade e não tem cabimento. Não traria nenhum benefício. O euro levou mais de 10 anos para ser implantado e depois de muitas discussões para unificar políticas econômicas. Realmente não vejo vantagem nenhuma na ideia do presidente Lula. Acredito que ele está discursando para a plateia. Para os convertidos”, finalizou o economista apucaranense.
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