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Cafeicultores relembram impacto na região 50 anos após geada negra

Fenômeno destruiu plantações de café em todo o estado, causando crise econômica sem precedentes

Da Redação

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Geada negra destruiu cafezais na região em 1975
Icone Camera Foto por arquivo/TNONLINE
Geada negra destruiu cafezais na região em 1975
Escrito por Da Redação
Publicado em 18.07.2025, 06:00:00 Editado em 17.07.2025, 18:58:29
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O cafeicultor Alécio Gorla, de Apucarana (PR), tinha 32 anos quando viu os cafezais de sua família serem castigados pela geada negra, em julho de 1975. O fenômeno, que completa 50 anos, destruiu plantações de café no Paraná, então o maior produtor mundial do fruto, causando uma crise econômica sem precedentes.

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A propriedade de Grola fica no Distrito do Pirapó onde sua família tinha 22 alqueires de café plantados. Ele conta que a geada foi severa e durou quatro dias. Em 16 de julho o clima já estava muito gelado, com termômetros marcando 0 ºC, mas apesar do frio extremo, os agricultores não imaginavam o que estava por vir. No dia seguinte, o vento frio e seco "queimou" a vegetação que amanheceu necrosada em 18 de julho.

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“Houve um chuvisqueiro e a terra estava muito úmida. A frente fria entrou nela pra valer. Houve a geada negra e nos dias seguintes a formação de gelo que durou até 20 de julho. Teve região mais fria no Paraná que chegou a formar 50 centímetros de neve”, comenta.



							Cafeicultores relembram impacto na região 50 anos após geada negra
Foto por Coleção Miscelânia-Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR)
No dia 17 de julho de 1975 nevou em Curitiba a partir das 8h

Gorla lembra que a paisagem verde dos cafezais mudou de cor e ficou toda marrom e preta. O sentimento era de tristeza. “Foi um baque, né. Mas a gente tinha que continuar, pois o mundo não tinha acabado. Fomos nos adequando, tanto que trabalho com cafeicultura até hoje”, afirma.

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De acordo com o cafeicultor, as lavouras de café mais novas foram decepadas e os produtores iniciaram o ciclo do zero. Contudo, 1975 foi marcado com a maior produção de café do estado, o que deu um certo alívio financeiro aos produtores. “Por sorte, antes da geada o Paraná havia feito a maior colheita. Naquela época o estado produzia sozinho 25 milhões de sacas de café beneficiado. E com a escassez, o houve uma grande valorização”, afirma.

Nos anos seguintes, o café foi perdendo área de plantio para outras culturas como soja, milho e algodão. “Só os apaixonados por café ficaram”, afirma Gorla.

DIVISOR DE ÁGUAS

Evilásio Mori, de Cambira, no Vale do Ivaí, é outro cafeicultor que vivenciou os impactos da geada negra. Ele tinha apenas 13 amos quando viu as lavouras de seu pai serem atingidas. “Recordo que 1976 seria a safra cheia. Significava que iríamos ter uma safra bem generosa. Como a família exercia duas atividades, ficou a avicultura de postura para nos sustentar”, relata.

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Segundo ele, a geada negra foi um divisor de águas para a economia do Paraná, marcando a transição da monocultura do café para a diversificação. O fenômeno natural também levou ao êxodo rural. “Muitas pessoas deixaram a zona rural para buscar oportunidades em cidades. Os que permaneceram na cafeicultura tiveram que se adaptar às novas condições, implementando técnicas mais modernas, como plantios em espaçamentos menores e curvas de nível”, comenta

GEADA NEGRA E GEADA BRANCA

O economista e especialista em café, Paulo Franzini, explica que a geada branca é caracterizada pela formação de gelo visível nas superfícies, geralmente em áreas baixas e úmidas. Isso ocorre quando a umidade no ar se condensa e congela, formando uma camada de gelo branco e cristalino, e pode ser vista facilmente. A geada negra, ocorre quando ventos frios e secos danificam as plantas, causando a morte das células e tecidos. A ação do vento causa necrose, levando as folhas e ramos a ficarem pretos. Nesse tipo de geada, não há formação de gelo visível.

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“Em 1975 foram os dois tipos, mas ficou marcado como uma geada negra de forma geral. Meu pai era cafeicultor e no dia 17 de julho começou a sentir um cheiro de queimado. Na madrugada do dia 18 diminuiu intensidade do vento e começou a formar gelo e amanheceu tudo preto. A geada negra atingiu regiões onde a branca dificilmente atinge”, observa.

DECISÕES PARA AGRICULTURA

Franzini destaca que a geada de 1975 foi um divisor de decisões para a agricultura do Paraná. Antes da geada, o estado era o maior produtor de café do mundo, com cerca de 1,8 milhão de hectares de café plantados. No entanto, após o fenômeno, a área de café plantada diminuiu significativamente, e os produtores começaram a buscar outras opções. A mecanização da agricultura, que já estava em curso nos anos 70, se intensificou, e culturas como soja, algodão e milho começaram a ocupar as áreas que antes eram do café.

Além disso, as leis trabalhistas da época também influenciaram a mudança. Segundo Franzini, os produtores tinham dificuldade em cumprir com as novas regulamentações, e muitos optaram por mudar de atividade.

“A geada de 1975 foi um impacto econômico significativo para o Paraná, que vivia uma economia ligada ao café. Os produtores tiveram que se adaptar a uma nova realidade e mudar de atividade sem ter a estrutura necessária para isso. Essa mudança teve um impacto duradouro na agricultura do Paraná, que se diversificou e se modernizou ao longo dos anos”, destaca.

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