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Catar entra na reta final para receber a primeira Copa do Mundo no Oriente Médio

No dia 2 de dezembro de 2010, o Catar surpreendeu o mundo. Contra todos os prognósticos, um dos menores países da Ásia (de superfície equivalente à metade do Sergipe, o menor Estado do Brasil, e cerca de 2,7 milhões de habitantes) superou Japão, Coreia do

Fernando Valeika de Barros (via Agência Estado)

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Escrito por Fernando Valeika de Barros (via Agência Estado)
Publicado em 01.07.2022, 16:05:00 Editado em 01.07.2022, 16:29:30
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No dia 2 de dezembro de 2010, o Catar surpreendeu o mundo. Contra todos os prognósticos, um dos menores países da Ásia (de superfície equivalente à metade do Sergipe, o menor Estado do Brasil, e cerca de 2,7 milhões de habitantes) superou Japão, Coreia do Sul e Austrália e ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo, doze anos depois, agora em 2022.

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Enquanto comemorações pela escolha aconteciam nas ruas de Doha, a capital do país, os dirigentes da rica monarquia prometiam um Mundial compacto e suntuoso. O Catar ganha bilhões de dólares com a exploração de jazidas de gás natural e tem investimentos bilionários, com participação acionária em empresas como a alemã Volkswagen, a anglo-holandesa Shell, o banco britânico Barclays e o francês PSG.

Teria doze estádios, espalhados em cerca de 60 quilômetros de distância. Ficariam tão próximos uns dos outros, que, em tese, possibilitaria ao torcedor assistir até três jogos no mesmo dia, em estádios luxuosos e confortáveis, sem ter de enfrentar longas viagens e mudanças de hotel. "Nunca a Copa foi no Oriente Médio e o mundo árabe está esperando há muito tempo por esta oportunidade", disse o então presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter após a votação de seu comitê executivo na sede da entidade na suíça Zurique.

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Só que apesar da opulência prometida, a organização do Mundial ainda corre contra o tempo para deixar tudo pronto. O Estadão esteve em Doha em junho e constatou como está o Catar a pouco mais de quatro meses da disputa. Há muito a se fazer e problemas para serem resolvidos, como abrigar 1,5 milhão de visitantes durante os jogos.

"Tivemos de nos adaptar a muitos obstáculos, mas tudo estará pronto a tempo para um grande evento", disse Hassan Al Thawadi, CEO do Comitê de Entrega e Legado da Copa do Catar, durante entrevista após o sorteio dos grupos do Mundial. O primeiro desafio era óbvio: como fazer funcionar a logística para acomodar, durante um mês, a multidão de torcedores, sem transformar a vida do país em um caos nem deixar um punhado de elefantes brancos na cidade.

O primeiro contratempo foi o calor, perto dos 50º C em junho e julho, meses tradicionais do evento desde 1930, apesar de os estádios contarem com climatização, que mantém a temperatura em tornos dos 20ºC. Entre junho, período em que o Estadão esteve em Doha para acompanhar os dois jogos que definiram Austrália e Costa Rica como últimos classificados para a Copa, em alguns dias os termômetros marcaram 48ºC e, para quem andava ao ar livre, o sol era insuportável.

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Em 2014, o planejamento da Copa do Catar já havia sofrido outra alteração: o Supremo Comitê de Entrega e Legado, organismo ligado ao governo local e que coordena todas as atividades do Mundial, decidiu que os 64 jogos seriam realizado em oito arenas, e não mais doze. Atualmente, as arenas ou estão prontas ou em reta final de acabamento. Apenas o Lusail, um colosso de 30.000 toneladas de concreto, com 310 metros de diâmetro, em forma de cesto de tâmaras, onde será disputada a final, ainda não foi inaugurado. Mas está concluído desde 2021.

Se os estádios estão por conta de pequenas reformas nos seus entornos, houve avanços em outros canteiros de obras. Tocado por um orçamento estimado em US$ 229 bilhões (R$ 1,2 trilhão), houve avanços enormes na infraestrutura. A malha rodoviária que já era boa, ganhou estradas ainda mais largas, como a que hoje liga Doha a Al-Khor, com sete faixas em cada sentido. Antigas frotas de ônibus urbanos estão sendo substituídas por redes de metrô. Desde 2019, na região de Doha, foram entregues três linhas de metrô (vermelha, amarela e verde), criando uma rede com 78 quilômetros de malha, onde quatro anos atrás não havia uma única estação.

Com capacidade para 416 passageiros, os trens são automatizados e chegam a velocidade máxima de 100 km/h. Há uma estação a metros do principal aeroporto do Catar, o Hamad, e outras próximas de cinco arenas da Copa: Lusail, Education City, Ahmad bin Ali, Khalifa e 974. Para as outras três arenas (Al Thumama, Al Janoub e Al Bayt), haverá um serviço de ônibus durante a Copa, que será interligado a estações do metrô. Também já foram implantados 17 km de trilhos em duas linhas de bondes - uma delas na Cidade da Educação, um polo educacional com oito sucursais de universidades dos EUA, França e Reino Unido e instituições locais, a outra em Lusail, uma cidade planejada, onde fica o estádio da final da Copa do Mundo.

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Para reduzir congestionamentos em Doha, além da chegada da rede de metrô e bondes, foi aumentada capacidade das estradas que levam a estádios mais distantes, como o Al-Bayt, a 60 km de distância. "Com base em informações coletadas por câmeras e sensores, nosso Centro de Controle de Tráfego, poderá agir rápido para mitigar congestionamentos, controlando os semáforos e os fluxos de trânsito", diz o engenheiro Adullah Al Qahtani, da Ashghal, a empreiteira responsável pelo monitoramento de tráfego.

Para receber boa parte dos 1,5 milhão de visitantes esperados (1 milhão de ingressos já foram vendidos), o Aeroporto Hamad, o principal do pais, foi modernizado e teve a capacidade de seus cinco terminais aumentada. Cerca de 2,8 milhões de passageiros poderão circular pelas suas instalações. Para ajudar na operação de mais voos, foi suspensa a demolição do antigo aeroporto de Doha.

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"Passou por obras de renovação e adicionará uma capacidade de cerca de 10 milhões de passageiros", diz Akbar Al Baker, CEO da Qatar Airways, a principal companhia aérea catariana. Mas, por causa de tensões políticas com os vizinhos, que chegaram ao ponto de ruptura diplomática, entre junho de 2017 e janeiro de 2021, ficaram pelo caminho projetos grandiosos, como os trens de alta velocidade e a ponte com 40 km, que ligaria o Catar ao Bahrein em cerca de meia hora (a viagem de carro demora 5 horas). Também ficou pelo caminho a modernização da ferrovia entre o Catar e a Arábia Saudita, com trens que viajariam a 200 km/h.

Ainda há muito a ser fazer no Catar. Em Doha, a paisagem é marcada por guindastes e movimento de operários. Há bairros inteiros sendo formados com edifícios projetados por alguns dos mais badalados escritórios de arquitetura do mundo. São raras as semanas em que um novo cartão-postal não seja inaugurado. Há poucas semanas foi entregue o Iconic 2022, um conjunto com quatro edifícios em forma do número 2022, quando vistos de cima ou de frente. Fica a poucos metros do estádio Khalifa e da estação de metrô Al-Azizyah. Foi concebido pelo arquiteto Ibrahim M.Jaidah, o mesmo que projetou o Estádio Al Janoub. Em Lusail, um novo museu com pinturas e esculturas orientais, está em fase final de construção. Também está na reta final, o edifício do Museu do Automóvel do Catar, perto do Katara, o maior centro cultural do país.

HOSPEDAGEM

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Apesar dos avanços, Doha ainda tem problemas. Um dos mais complexos será onde acomodar uma multidão em 1,5 milhão de pessoas (pouco mais da metade da população do país), estimada para desembarcar no Catar durante os 28 dias da disputa. Haverá restrições para a entrada de estrangeiros Quem não estiver credenciado e não tiver ingresso e um lugar reservado para dormir, não poderá entrar no país. Ninguém entrará no Catar por "aventura". Para complicar, entre novembro e dezembro, um decreto do governo proibiu que todos os hotéis do país aceitassem reservas individuais de hóspedes, o que causou chiadeira por parte de quem já as tinha, já que os preços dos hotéis dispararam.

Agora, mesmo dirigentes e jornalistas credenciados e portadores de bilhetes, deverão visitar a Agência de Acomodação do Catar para encontrar um lugar para ficar. Também precisarão entrar na plataforma digital Hayya e registrar seus dados pessoais, comprovar que possuem ingressos ou credencial e lugar para pernoitar. Há hotéis, casas, apartamentos e quase 4 mil cabines em navios de cruzeiros que estarão ancorados no porto da cidade. E também cerca de mil tendas e cabines pré-fabricadas, que serão instalados em camping nas imediações da capital do país.

"A plataforma oficial de acomodação para a Copa dará opções aos torcedores que quiserem ficar aqui durante os jogos: hotéis, apartamentos e casas, dois navios de cruzeiro gigantes, padrão 5 estrelas, ancorados no porto de Doha, e também acampamentos. Serão estruturas com camas e água, eletricidade e sistemas de drenagem", disse ao Estadão, Omar al-Jaber, Diretor Executivo do Departamento de Acomodação do Comitê Supremo de Entrega e Legado do governo. Quatro destes acampamentos serão construídos na Ilha de Al Qetaifan, em Lusail, em uma área próxima ao maior shopping da cidade, o Mall of Qatar. O Estádio Ahmed bin Ali fica ao lado do local, e duas arenas nas quais o Brasil jogará seus três jogos na fase de grupos, Lusail, contra Sérvia e Camarões, e 974, diante da Suíça.

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Há ainda a possibilidade de o torcedor ficar em outros países da região e se valer dos aeroportos e voos ampliados do Catar. A promessa é de ponte-aérea durante a competição com várias companhias. Os voos chegariam 5 horas antes das partidas, permitindo que os fãs curtissem a cidade antes de voltar para a base. Seriam 160 voos por dia para 200 mil pessoas. "A Copa será uma boa oportunidade para os fãs de futebol descobrirem uma parte do mundo que eles não conhecem", disse o presidente da Fifa Gianni Infantino.

DINHEIRO

É bom saber que não será barato acompanhar os jogos. Cálculos do Clube dos Torcedores de Futebol da Europa estimam que esta será a Copa mais cara de todos os tempos. Três partidas da fase de grupos poderá custar até 2.770 euros. Serão raros os quartos de hotel cotados a US$ 80 por noite. Nas "Fan Village Cabins", os preços começam em US$ 200. Segundo o francês, Ronan Evain, diretor da associação, a saga continua com os ingressos, vendidos cerca de 46% mais caros na comparação com os preços na Rússia.

Tudo isso está desanimando os torcedores, mesmo os mais fanáticos. "Desde 2016, não perco um jogo da seleção da França, mas já decidi que não irei ao Mundial do Qatar", disse o francês Fabian Tosolini, do grupo Irrésistibles Français ao jornal francês lÉquipe. "A soma de entradas e voos caros, hospedagem incerta... tudo isso junto, não é possível". Isso explica porque apenas 120 membros do grupo estariam dispostos a viajar ao Catar, em novembro. Eles eram 600 na Rússia. Movimento similar estaria acontecendo na Bélgica: somente 1.200 torcedores dos "Diabos Vermelhos" estariam dispostos a acompanhar os jogos, segundo o jornal belga "Het Laatste Nieuws". Na primeira fase da Euro 2020, foram 20 mil.

LOCOMOÇÃO

As arenas estarão num raio de 60 km ou 53 minutos de carro. Durante os dias em que foram disputados os dois jogos que definiram os dois últimos classificados para o Mundial, a reportagem utilizou o metrô para chegar até o Estádio Ahmad Bin Ali, local das duas partidas. Limpos e rápidos (chega a velocidade máxima de cerca de 100 km/h), os trens são divididos em três categorias - Dourada (que exige bilhetes especiais) e vagões para mulheres (só maridos, namorados ou crianças podem entrar, desde que as acompanhem) e para homens.

Uma dica: leve sempre o seu telefone com o aplicativo Ehteraz, de rastreamento de casos de covid-19, do governo do Catar, instalado no celular. Em junho, nenhum passageiro podia embarcar em nenhuma estação de metrô, entrar em um ônibus ou em restaurantes, lojas, supermercados, ou shopping-centers sem mostrá-lo na entrada. A medida de prevenção deverá continuar valendo durante o período da Copa de 2022.

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