ENTENDA

A HISTÓRIA DE UM EX-VEREADOR, PAI, AVÔ E BISAVÔ ELOYR MILANO

Em 04 de agosto de 1945 mudou-se para Apucarana com a família na busca da prosperidade oferecida pela região

Da Redação ·
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Há alguns dias recebi o convite – sempre bem-vindo, inclusive – para conversar com o querido nonagenário Eloyr Milano. Nascido em 03 de dezembro de 1929 na pequena cidade de Matos Costa em Santa Catarina, mudou para o Joaquim Távora no norte do Paraná aos 5 anos. Em 04 de agosto de 1945 mudou-se para Apucarana com a família na busca da prosperidade oferecida pela região.

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Seu Eloyr narra com uma riqueza de detalhes impressionante que se lembra de chegar de trem nesta cidade e que dois dias depois lia nos jornais sobre o ataque nuclear dos EUA sobre a cidade de Hiroshima. Naquela época Apucarana tinha pouco mais de um ano, pelo menos desde sua emancipação oficial no dia 28 de janeiro de 1944. O senhor Jeronimo Milano, pai de nosso entrevistado, montou uma fábrica e depósito de bebidas na cidade, foi também o primeiro químico industrial do município. A casa da Família Milano era uma entre as pouco mais de cem casas que existiam no município – todas de madeira, como ele salientou.

Em 1949, ingressou no Ginásio Municipal de Apucarana e começa a colaborar no jornal local Gazeta de Apucarana, fazendo a coluna social e esportiva. Aos 29 anos foi eleito vereador (1959 – 1963). Milano destaca que naquela época a legislatura era voluntária, ou seja, os vereadores não recebiam pelo exercício da função.

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Foi no ano de 1967 que o senhor Eloyr começaria a ocupar a função que exerceria por 42 anos na Prefeitura Municipal de Apucarana: responsável pelo Arquivo Municipal. Foi nesta função que talvez tenha deixado as maiores marcas de seu trabalho, com um cuidado paternal foi responsável pela salvaguarda de plantas da Catedral feitas a lápis ainda na década de 1960, por projetos de ruas e avenidas que ainda percorremos, por ofícios e documentos sempre acompanhados pelo recorte de jornal do dia seguinte com a notícia de sua assinatura.

O Arquivo Municipal ainda hoje existe e foi muito bem cuidado após a saída do senhor Eloyr e graças a este trabalho conjunto é possível que remontemos parte de nossa história.

Com o projeto que estamos organizando junto a prefeitura logo muitos documentos e plantas serão de conhecimento público, vistos em sua grandeza e validade, com cada folha carregando a digital do senhor Eloyr. Segundo o ex-prefeito e hoje secretário de saúde estadual, Beto Preto, “o senhor Eloyr é um arquivo vivo da história de Apucarana, prestou serviços ao Município por mais de 40 anos, sempre com muita retidão, paciência, tolerância e ainda, elevado espírito público”.

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A fala de Beto Preto se deu em 05 de junho de 2015 quando o senhor Eloyr foi homenageado pela Câmara Municipal, recebendo o título de Cidadão Honorário. Quando conversamos sobre este momento, os olhos do senhor Eloyr se encheram de uma alegria transmutada em pequenas lágrimas. É visível e evidente o orgulho de ser considerado cidadão apucaranense, cidade que se transformou em mais que sua morada. A história do senhor Eloyr se confunde com a história do munícipio de Apucarana e, apesar dos 91 anos, é capaz de dizer nomes, datas, locais com a precisão que os sites de buscas não acompanhariam.

Hoje, a audição já não é a mesma, assim como a visão, mas com uma vitalidade assombrosa é um perfeito interlocutor, que com muito respeito tem muito a dizer sobre tudo que lhe é perguntado, dando sempre os créditos aos seus contemporâneos, demonstrando além de tudo uma humildade grandiosa.

Não fosse por toda essa trajetória, Eloyr Milano é ainda um dos mais antigos e, ainda ativos, maçons não só de Apucarana ou do Paraná, mas do Brasil. Coisa essa que ostenta mostrando os inúmeros certificados e honrarias recebidos nestes 70 anos de Loja Maçônica. Tendo em base os princípios maçônicos de justiça e constante melhoramento, o senhor Eloyr sempre foi reconhecido pelo empenho na ajuda a todos que o procuraram ao longo destas sete décadas desde sua iniciação. Mais uma vez, sua história de vida se confunde com a de centenas, uma vez que esteve envolvido em todos os grandes momentos de todas as lojas desta cidade e de toda região.

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Morando na mesma casa desde 1968, viu ali seus filhos crescerem e voltarem com seus netos e bisnetos. Apesar de ter perdido a esposa há mais de trinta anos, figura ela na parede da sala em uma pintura e em fotos ao lado do esposo, fazendo com que sua imagem seja remetida visualmente em meio as memórias citadas. A casa com traços simples em meio ao bairro que, segundo o próprio Eloyr, era um grande cafezal atrás de uma das três grandes serrarias, tem na sala uma pequena cápsula do tempo que nos permite vivenciar uma experiência única.

Muito querido o senhor Eloyr me convidou, não uma vez, para conversarmos e, apesar de nossa proximidade, ainda escreve na parte de fora do envelope “Professor Guilherme Bomba”, demonstrando um respeito – expresso também em palavras – pela minha função de historiador. Ah senhor Eloyr, devo dizer que nestes momentos sou apenas um aluno sedento por conhecimento. Eu, como pesquisador dessa cidade que um dia me acolheu, me sinto sempre um pouco mais perto do meu objeto de estudo quando o escuto. Não há definição melhor do que a dita por Beto Preto: “é história viva”. Que sejam ainda outras muitas entrevistas nos próximos anos, que possamos “falar groselhas” como me disse hoje, pois essas groselhas são na verdade aquilo que não podemos esquecer. O título de hoje é “O que não cabe no museu”, e digo não haveria museus suficientes para guardar toda essa história que o senhor tem a contar.  

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